Ao longe nem se nota muito a sua existência (Complexo de Piscinas). Com um desenho, posicionamento, textura e cor algo “inconspicuos”, dão-lhe uma presença quase furtiva na paisagem.
Todavia as aparências (muitas vezes) iludem. E este parece ser um desses casos. Trata-se de um elemento arquitectónico bem integrado e valorizador da paisagem humanizada mas ... (infelizmente tem um grande "mas") ...
E este "mas" não tem a ver com o objeto construido, mas com a desproporcionalidade do esforço que foi feito para o construir, pagar e sustentar, comparado com a dimensão humana, necessidades, aspirações e riqueza da localidade.
Este parece ter sido um dos muitos casos em que a obra não nasceu de qualquer compromisso eleitoral nem de aspiração popular. Provavelmente a maioria da população local da altura nem sabia nadar nem estava motivada para aprender ali. E a prova desse desfasamento é que, até hoje, passou quase uma década após a sua construção e apenas esteve aberta aos olhares do publico no dia da inauguração (03.2009).
Segundo noticia
da época "A inauguração do complexo de piscinas municipais na Povoação representou
"um dia histórico para os povoacenses", afirmou o autarca ...,
durante a inauguração do projecto, que representa o maior investimento
efectuado na história da autarquia da Povoação."
Quando o maior investimento público
(municipal) num concelho rural é uma piscina destas, provavelmente já se tomou consciência da inimputabilidade do exercicio do poder autárquico e já se perdeu boa parte da "sanidade democrática e da governação autárquica". E não
se poderá dizer que não existiam já precedentes desastrosos neste domínio, nomeadamente:
- Primeira piscina publica projectada para a
Povoação (foz da ribeira da Vila), convertida à ultima hora em pavilhão de
exposições para fugir ao ridículo;
- Piscina da Vila Franca do Campo, integrada no
Aquapark. A piscina fechou ao fim dum par de anos e o Aquapark meia década
depois;
- Piscina do Nordeste, com encargos de construção
a rondar os 10 M€ mas que nem chegou a ser inaugurada. Em 2017 o Presidente da Câmara em funções chegou ao ridículo de propor a sua afectação a tanque de criação de camarão;
Na noticia do link acima lê-se ainda: «Na cerimónia de inauguração, estiveram presentes o
deputado com assento na Assembleia da República, ..., vários
presidentes de câmara da ilha de São Miguel, representantes da Caixa
Geral de Depósitos (credor), diversos deputados regionais e municipais e outros
convidados. O presidente da Câmara Municipal da Povoação
anunciou, à margem da cerimónia de inauguração do complexo de piscinas,
que a autarquia adquiriu um terreno adjacente às piscinas para construir
um futuro centro de Fitness e SPA da Povoação. "Os povoacenses não
podem ser inferiores aos cidadãos desta ilha ou de Portugal. As pessoas
devem ter acesso às mesmas valências que existem noutros lugares, ou
poderemos assistir a que as pessoas que tenham possibilidades abandonem o
concelho", frisou.»
Com o passar dos anos, e como sempre, a realidade sobrepôs-se
à ficção e a maioria da direcção municipal envolvida "desapareceu do mapa". A Câmara reinante na altura da construção caiu e nova se instalou. Os novos autarcas anunciaram pomposamente que não pagavam aquilo mas, ao fim de algum tempo e como sempre, "deram o pescoço à canga". A piscina "premiada internacionalmente" nem conseguiu
certificação para competições de natação. E mesmo que tivesse conseguido
provavelmente não captaria mais aderência que as "grandes" piscinas
das escolas de Ponta Garça e Água do Pau ou a piscina dos Bombeiros da Ribeira Grande,
aderência essa que ficou entre o reduzido e o nulo.
Sobre esta "Premiada" piscina existe um contundente relatório de "Comissão Técnica Independente" que, de entre muitas outras "rezas", se realça a seguinte:
"Numa construção de raiz edificada há bem pouco tempo, não foi tida em
conta uma bancada para os pais, familiares, amigos e espectadores em
geral poderem assistir, por exemplo, a uma aula de natação. Tal situação
já tinha sido sinalizada pela Direcção Regional do Desporto que, no
decorrer do processo de licenciamento da obra, tinha alertado para o
facto desta mesma bancada não estar contemplada no projecto, o que se
traduzia num reduzido efeito de espectáculo devido à pouca visibilidade
que os espectadores teriam do plano de água."
E como se tudo isto não tivesse servido de lição, uma das maiores
bandeiras eleitorais locais das últimas eleições autárquicas (na Povoação) foi a construção
de mais uma piscina (mais uma), desta vez descoberta, junto ao mar e ao lado da praia.
De facto, a onda de construção de piscinas públicas em concelhos
rurais é "chão que dá uvas".