quarta-feira, 2 de maio de 2018

A "Primavera dos Navios Cruzeiro" no Atlântico Norte (Ponta Delgada - Açores - 2018)


Terminada a temporada de recreio das Caraíbas, há que mudar a frota de cruzeiro para o Mediterrâneo, para o Báltico e para os Fiordes. Pelo caminho estão os Açores e a Madeira. Antes paravam regularmente na última e esporadicamente na primeira. Na passada semana (última de Abril.2018) foram à volta de duas dezenas numa só semana em Ponta Delgada.




A notícia é usualmente espalhada com pompa e em tom triunfal, por aqueles locais que não metem o seu dinheiro naquele negócio nem vivem das receitas do turismo de cruzeiro. É verdade que se alugam na Ilha alguns autocarros, jipes e outros veículos, e que se vendem, na Avenida Marginal, bastantes "bonecas de folheiro" e cerveja fresca. Todavia poucos, ou nenhuns, expõem, lado-a-lado, os custos destas operações (totais, directos e indirectos) para a Região Autónoma e os proveitos líquidos que na Ilha ficam. Era também interessante comparar quanto paga (no total) cada navio da Transinsular, por tonelada de Deslocamento (displacement, loaded), por dia acostado ao cais de Ponta Delgada, e quanto paga um navio de cruzeiro destes (por tonelada do mesmo tipo de Deslocamento) e em período semelhante e no mesmo local.
Esperemos que, no fundo, depois de feitas todas as contas, não se esteja a pagar para estes cruzeiros pararem na Ilha.

Que existe algum efeito multiplicador nas paragens destes cruzeiros na Ilha, existe. Irão dar notícia deste (solarengo ou chuvoso) paraíso nas suas terras de residência. O que está por apurar é a taxa de adesão que se gera nesse auditório (quantos visitantes novos aparecerão por cada 1000 que passarem em cruzeiro na Ilha).

Imagem interessante (em baixo), com ambiente cosmopolita no Pesqueiro, quase como com o Mundo a desfilar aos pés dos banhistas de fim-de-semana.



Foto (em baixo) elucidativa do movimento do último fim-de-semana de Abril (2018) em Ponta Delgada. Desconhecemos a origem da foto, mas que representa bem o inusitado ambiente do dia, representa.


Em baixo: Navio Camberra em Ponta Delgada, em 1984. Foto: HdA
Em baixo: porto de Ponta Delgada em 1997 (à 21 anos), com 3 navios cruzeiro em simultâneo a partilhar o cais comercial e o da NATO.  Nessa altura considerava-se que o porto "chegava para as encomendas" e ainda sobrava. Depois mudou-se de opinião, construiu-se mais um cais e tentou-se mudar a realidade ("encomendado" mais navios) para provar que se justificava a mudança de opinião. Pelo meio ficou o grosso da despesa local (construção e manutenção) e o benefício para os operadores dos cruzeiros. Pelo meio ficou marginal receita local associada ao aluguer duns autocarros e jipes, da venda dumas "bonecas de folha" e dumas cervejas importadas.
Sobre o balanço desta operação boa parte da população Açoriana tem uma ideia proxima daquilo que por ali se passou e passa ... mas a coisa está feita, e ... "c'est la vie". Foto: HdA




Ponta Delgada (em baixo), em 2018, no seu dia-a-dia, com ou sem cruzeiros.

Parecia que os passageiros do navio estavam a beber umas "louras" da Melo Abreu  numa das esplanadas das Portas do Mar. Mas não era bem assim; estavam mais era a aproveitar o "hotspot wifi" para porem o "vicio" e a correspondência em dia.
Para os "Tarzans" do costume e aos banhistas de Primavera e Verão, o que interessava era o sol radioso que se fazia sentir. O navio pouco mais fazia do que sombra.





E no meio dos visitantes iam aparecendo umas "aves raras" como estes dois seres masculinos (em baixo), "travesties" septuagenários, vestidos de meninas em idade de escola, com meias brancas e cuecas de renda bem à vista. Em alguns "Spots" parecia que se estava no Castro District de San Francisco. Enfim, parece que não incomodaram ninguém, mas que tinham o firme propósito de impressionar ou provocar, lá isso pareciam ter.




No início do séc. XX, principalmente durante a Primeira Grande Guerra, e logo depois, alguns dos habitantes locais que precisavam de meios de subsistência e não os arranjavam em terra, metiam-se num bote a remos e iam tentar vender alguma fruta, rendas e bugigangas junto da amura dos navios ancorados no porto. Estes barcos eram conhecidos noutras paragens Asiáticas por "Bumboats" (canoas de madeira) e eram os que abasteciam o necessário aos navios ancorados afastados de terra.
Os passageiros içavam as compras e atiravam as moedas. As ditas que caíam à água eram "caçadas", com mergulho nas águas profundas, pelos "nativos" mais novos presentes no "bumboat". Naturalmente que, para muitos passageiros do navio, era mais interessante e divertido atirar moedas ao mar e ver os nativos mergulhar atrás delas a 8 ou 10 m de profundidade, do que comprar rendas e "bonecas-de-folheiro". Na ilha da Madeira acontecia algo de semelhante mas com maior intensidade.
Não sabemos onde vimos algo parecido ... . Enfim, quem precisa muito, precisa muito; e quem tem muito de sobra pode atira-lo ao ar e ver os outros a saltar. 

Foto em baixo: Ponta Delgada em 1919.


Ninguém escolhe o local onde nasce - mas talvez possa escolher onde vive; talvez
!
Nos dias que correm, os "mergulhadores das moedas" e os "vendedores ambulantes embarcados" foram substituidos pelos guias e pelos "condutores de Jipes" e outros "entertainers", a maioria deles "licenciados" em qualquer coisa. Para aqueles que não podem viajar naqueles navios, ao menos que deles tirem alguns tostões e justifiquem, assim, alguns subsídios da "União".

 Foto em baixo: Bumboats em Ponta Delgada, nos anos de 1940s.(Fotos de História dos Açores em Imagens - 1940s)

Em baixo: Ponta Delgada em 2017

Em baixo: Imagens da Madeira ( Fotos de História dos Açores em Imagens - 1940s) 
 




A grande afluência ao porto de Ponta Delgada não é coisa do séc. XXI. Desde o XIX e, em especial, desde a Primeira Grande Guerra (1914/18), o porto de Ponta Delgada vale pelo seu molhe de abrigo e, em segunda linha, pelo seu cais comercial. O recreio (navios de cruzeiro) é e será sempre um acessório.( Fotos de História dos Açores em Imagens - 1940s)



Em baixo: PDL-1957. Para a grande maioria das pessoas, cruzar o Atlântico (por necessidade) fazia-se por via marítima - quer para Lisboa, quer para outras paragens a Oeste ou a Leste. As viagens de recreio (cruzeiro) existiam, mas eram uma fracção marginal do global do movimento maritimo de passageiros.
Foto: HdA

Em Maio de 2019 a estação alta da passagem de cruzeiros ia acontecendo. Em baixo;
Os membros da familia Norwegian Cruise Line - Epic Jade Star. O outro, azul e branco, apesar de imponente, parecia um intruso.
 



















 








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