Com este artigo na revista Visão, Ricardo Araújo Pereira quase que passou a merecer nome de rua em Lisboa.
Eh, toiro lindo! Olha o Tsipras!
  
Eh, toiro lindo! Olha o Tsipras!
"Portugal olha para o Syriza como o rabejador olha para o forcado da 
cara. Estamos com muita esperança no desgraçado que vai lá à frente e 
leva uma boa cornada do touro mas, com sorte, talvez consiga 
imobilizá-lo de modo a permitir que nós seguremos no lado do bicho que 
não aleija. É possível que esta metáfora tauromáquica seja injusta e não
 faça sentido. Não percebo o suficiente de tourada mas, agora que penso 
nisso, ser rabejador envolve muito mais coragem do que a que reconheço a
 Portugal (e a mim). Há que agarrar na ponta do boi que escoiceia. E, 
sem ajuda, fazer tudo para que os companheiros possam largar o toiro sem
 que o animal invista sobre eles. Não, Portugal não é o rabejador. 
Portugal é o forcado que aparece no fim da faena, já depois de o bicho 
estar morto, para se servir de umas fatias de acém, e que, se o animal 
calha a ter um espasmo, ainda faz xixi nas calças. Não sei como se chama
 esse forcado, mas somos nós. Angela Merkel, nesta metáfora, é o bovino.
 Neste ponto, não é necessária muita imaginação.   
Ao que nós 
chegámos. Uma coisa é esperar o aparecimento de um rei falecido há 
séculos, outra é contar com um heleno para nos conseguir melhores 
condições de vida. Que é feito das fantasias tradicionais portuguesas? 
Onde estão as ilusões nacionais de antanho? É certo que a probabilidade 
de Portugal beneficiar da acção de Alexis Tsipras acaba por ser maior do
 que a do regresso de D. Sebastião, mas quão fracos têm de ser os nossos
 mitos para que um grego de 40 anos os substitua tão facilmente?
Felizmente, podemos contar com o nosso primeiro-ministro. Passos 
Coelho não espera nada de Tsipras. Não faz sentido combater a 
austeridade, porque a austeridade é nossa amiga. Dizer que a dívida é 
impagável é de uma desfaçatez impagável. O desemprego, o aumento da 
dívida e o incumprimento das metas do défice são fruto da má vontade da 
realidade, que se recusa a colaborar com o caminho certo. Desejar outra 
coisa é inútil e perigoso. Poderia gerar desemprego, aumento da dívida e
 incumprimento das metas do défice. Deus nos livre. De acordo com o 
primeiro-ministro, as ideias do Syriza são "um conto de crianças". É 
possível, não digo que não. Mas as ideias de Passos Coelho são, como 
sabemos, um filme para adultos. E o traseiro que o protagoniza, 
infelizmente, é o nosso."
 
 
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